Método pode prever rejeição de órgão transplantado

Pesquisadores australianos desenvolveram um método que pode prever a rejeição de órgãos transplantados por meio de exame de sangue. O avanço científico, publicado na revista Nature, uma das mais prestigiadas entre a comunidade acadêmica, representa um marco na medicina ao identificar biomarcadores universais presentes no plasma de pacientes que passaram por transplantes.

A descoberta surgiu de uma ampla meta-análise conduzida pelo estatístico da Universidade de Sydney, Harry Robertson, que examinou 54 conjuntos de dados abrangendo estudos sobre transplantes de rim, pulmão, fígado e coração. 

Os resultados mostraram que 158 genes se expressam de forma diferente durante episódios de rejeição em todos os tipos de órgãos analisados, um número quase 20 vezes maior do que o esperado.

O método desenvolvido pela equipe australiana supera os modelos específicos para cada órgão que estão em desenvolvimento para uso clínico. Atualmente, quando pacientes precisam fazer uma cirurgia de transplante, a equipe médica depende de biópsias para detectar sinais de rejeição, procedimento que apresenta riscos e limitações diagnósticas.

A expectativa é que com a descoberta seja possível desenvolver estratégias para aumentar as taxas de sucesso dos transplantes. Segundo Robertson, o estudo estabeleceu uma prova de princípio para um exame de sangue universal capaz de prever a probabilidade de rejeição antes que ela aconteça.

Taxas de sobrevivência variam conforme o órgão

Um dos principais desafios que a pesquisa procura resolver é a ausência de métodos seguros e práticos para avaliar os primeiros sinais de rejeição de órgãos. A intervenção medicamentosa precoce poderia prevenir falhas e evitar a necessidade de novos transplantes, mas essa possibilidade esbarra nas limitações dos métodos diagnósticos atuais.

A sobrevivência de um transplante apresenta diferenças, conforme o tipo de órgão, com taxas de sucesso a longo prazo de 59% para pulmões, 80% para fígado, 82% para rins e 73% para coração, conforme dados do Science Alert

A rejeição pode ocorrer a qualquer momento após a cirurgia, inclusive anos depois do procedimento. A suspeita nasce quando há sinais de que o órgão transplantado não está funcionando adequadamente. Porém, em alguns casos, pacientes podem não apresentar sintomas antes da falha do órgão, sendo a biópsia considerada a única forma, até os resultados da pesquisa australiana, de confirmar o diagnóstico.

Biomarcadores revelam mecanismos de rejeição

O estudo australiano identificou biomarcadores envolvidos na secreção de proteínas que estimulam glóbulos brancos, enzimas que induzem morte celular, receptores celulares que permitem entrada e saída de materiais, e células da medula óssea envolvidas na resposta imune. 

Esses biomarcadores moleculares oferecem alternativas menos invasivas às biópsias tradicionais, permitindo monitoramento mais frequente e seguro dos pacientes transplantados. A identificação precoce de problemas possibilita intervenções terapêuticas antes que ocorram danos irreversíveis ao órgão transplantado.

Entre as abordagens de monitoramento estudadas estão a detecção de DNA livre circulante derivado do doador, microRNAs que regulam a expressão gênica, e exossomas (pequenas vesículas secretadas pelas células que contêm informações sobre o estado dos tecidos).

Robertson e sua equipe descrevem suas descobertas como um “marcador molecular unificador para todos os órgãos”, oferecendo uma abordagem mais abrangente do que os métodos tradicionais. O desenvolvimento desses transplantes inovadores de monitoramento representa uma abordagem diferente dos atuais modelos de acompanhamento pós-operatório.

A equipe de Robertson criou um site interativo para a comunidade científica que permite que pesquisadores comparem possíveis biomarcadores de rejeição de transplantes com outros métodos, fornecendo avaliação padronizada. Segundo os pesquisadores, a plataforma foi desenvolvida para facilitar a validação e a implementação clínica da descoberta.

Aplicações futuras

Ainda não há confirmação se o método é aplicável a transplantes de pâncreas, estômago ou intestino. Os pesquisadores afirmam que a descoberta pode estabelecer um novo padrão na medicina de precisão para receptores de transplantes.

Com pesquisas adicionais, os biomarcadores identificados poderão diferenciar tipos de rejeição de órgãos, incluindo problemas imunológicos, suprimento sanguíneo inadequado ou reparos inadequados. 

Leia também:

Nathani Paiva
Nathani Paiva

COMPARTILHE

Facebook
Twitter
LinkedIn

JUNTE-SE A MILHARES DE PESSOAS

Cadastre-se em Nossa Newsletter e receba conteúdos exclusivos e com prioridade!

JUNTE-SE A MILHARES DE PESSOAS

Cadastre-se em Nossa Newsletter WhatsApp e receba conteúdos exclusivos e com prioridade!